segunda-feira, 10 de julho de 2006

CRÔNICA DO DIA - SÔ TRABAIADÔ SEU DOTÔ


É ao mesmo tempo triste e interessante a distorção cultural que vemos gradativamente tomar força no Brasil e que, com a ascensão do PT ao poder tomou proporções alarmantes. Trata-se do cultivo do paternalismo demagógico, da equivocada idéia de que “distribuição de renda” se configura em simplesmente tirar dos ricos, não importando o fato de que o cidadão laborou arduamente uma vida inteira para angariar essa condição, para dar graciosamente aos pobres, sustentando-os ao invés de ensina-los – e em alguns casos até mesmo forçá-los – a buscar seu próprio sustento.

Propaga-se pela mídia pelos órgãos governamentais, a imagem romântica daquele pobre brejeiro, humilde e inocente, que aceita as dificuldades que lhe são impostas sempre com um sorrisinho resignado no rosto. Esse personagem, contudo, está em franca extinção. O indivíduo que o substitui têm sido doutrinado, durante pelo menos duas décadas, a crer que só tem direito e nenhum dever. Criou-se, então, o sujeito astuto, que mede os passos e os atos, dotado de uma brejeirice e humildade dissimulada. Seu real anseio não é uma possibilidade de ascender financeira e socialmente pelo próprio trabalho honesto, e sim que aqueles que assim o fizeram promovam o seu sustento e o de sua família.

Deixando de lado um pouco o irritante e vazio discurso “politicamente correto”, podemos observar aqui e acolá exemplos da existência desse novo tipo de pobre, que celebra como máxima justificadora de seus atos o princípio do “sô trabaiadô seu dotô”.

Utilizemos, de início, o exemplo dos chamados “flanelinhas”. Criação típica do folclore do absurdo brasileiro, trata-se de um sujeito que cobra dinheiro para que o cidadão estacione seu veículo na via pública que ele considera de sua propriedade. De acordo com o princípio do “sô trabaiadô seu doto”, aquela via é dele, não obstante o cidadão honesto arcar com pesados tributos que, ao menos em tese, garantiriam a ele o direito de estacionar seu veículo gratuitamente ali. Caso o “aluguel” da vaga não seja pago, o indivíduo, tal qual legítimo proprietário defendendo sua posse, se dá ao direito de danificar o patrimônio do “invasor”.

Da mesma forma, o indivíduo que, devidamente munido de um dos seus muitos filhos, percorre os veículos parados nos semáforos pedindo “uma moedinha”. Experimente o leitor perguntar a um desses indivíduos porquê deveria lhe dar dinheiro e receberá a máxima “sô trabaiadô seu dotô” e isso basta. Não são todos, mas muitos tem acesso à oportunidades de trabalho formal, que, contudo, não lhes interessa, já que isso significa trabalhar arduamente, talvez por uma remuneração menor do que aquela que auferem pedindo.
Frise-se que aqui não se defende o abandono dos descamisados. O que é preciso distinguir é o necessitado do oportunista: aquele sujeito que espera que o Estado lhe de tudo sem qualquer esforço. O necessitado merece auxilio na exata proporção de suas necessidades, para que as supere e comece a produzir por si só. Ao oportunista deve-se reservar nada mais que o rigor da Lei.

O caso do MST é exemplar. Apesar de se auto intitularem Movimento dos Trabalhadores (sô trabaiadô seu dotô) Sem Terra, a única coisa que não se vê são seus integrantes trabalhando. Promovem invasões, incitam a violência, destroem propriedades que muitas vezes foram erigidas com décadas de trabalho árduo, mas de labuta propriamente não se fala.

Experimente o leitor visitar um acampamento desse movimento e o que se verificará é uma orbe de pessoas batendo papo ou reunidas em conchavos políticos que não guardam qualquer relação com a lide no campo. O Governo atual, cego e impotente diante de uma organização que pode ser intitulada como paramilitar, ao incentivar suas ações e a própria existência deste movimento, manda um recado claro para os poucos “pobres à moda antiga” que ainda existem nesse país: “Desistam de lutar por uma vida melhor. Usem a credencial sô trabaiadô seu dotô”.

Ao invés disso, uma atitude inteligente seria reerguer a classe média no país, reduzindo drasticamente os juros agióticos aqui cobrados e impondo uma carga tributária condizente com a realidade. A classe média historicamente sempre foi a engrenagem principal de qualquer sociedade. É ela que fomenta o consumo, aumentando a produção da indústria e conseqüentemente gerando empregos.

Com uma classe media encurralada por juros estratosféricos, tributos confiscatórios, e ainda ameaçada em seu patrimônio pelos detentores da credencial “sô trabaiadô seu dotô”, a indústria não produz, gerando mais desemprego e mais detentores da indigitada credencial.

Ao mesmo tempo, deve-se restabelecer a cultura de incentivo ao trabalho honesto e desestímulo das práticas parasitárias. O camelô que vende tênis falsificado em frente à uma loja de sapatos que funciona na formalidade, não deve ser tratado como trabalhador e sim como um infrator da lei, tal qual o flanelinha, o pedinte oportunista e o invasor da propriedade privada.

Não é a condescendência demagógica e irresponsável que irá extinguir a pobreza em nosso País, mas sim o incentivo à produção e ao trabalho honesto e formal.

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