sábado, 2 de fevereiro de 2013

ESTÃO CHORANDO POR QUE? - Por Luciano Blandy

"A ética não é um objetivo em si mesma. O objetivo em si mesmo é o interesse nacional. A ética é meio, não fim"

A frase acima foi dita ontem, pelo novo Presidente do Senado, o Senador Renan Calheiros. Poucos se deram conta o quão profunda essa frase é, e quanto ela traduz nosso espírito como sociedade. Me desculpem os que assinaram a tal lista de repúdio à candidatura do Senador, mas poucos representam melhor o que o brasileiro faz e pensa no seu dia-a-dia como o novo Presidente do Senado. Querem ver?
Comecemos destrinchando a frase acima.

Se a ética não é um fim, mas apenas um meio para atingir um objetivo (no caso, o interesse nacional), então ela pode ser substituída a qualquer momento se, como meio, não estiver se mostrando eficaz para atingir determinado fim. 

Se o leitor precisa chegar a um determinado endereço e, para tanto, necessita trafegar pela Marginal Pinheiros, ao constatar que a via está congestionada, adota um caminho alternativo. Da mesma forma, segundo Renan Calheiros, se é necessário alcançar um determinado "interesse nacional" que, por meios éticos, não se consegue, às favas com a ética. O que o Senador está propondo, na verdade, é que, para atingir o tal "interesse nacional", vale tudo: roubar, matar, corromper, etc. É uma edição modernizada da máxima segundo a qual, os fins justificam os meios.

E quem decide o que é e o que não é "interesse nacional"? O Senador Renan, oras bolas! Certamente era interesse nacional que nós, brasileiros, pagássemos a pensão da filha que ele teve fora do casamento, afinal, se tivesse que parar para pensar onde arrumaria dinheiro para sustentar a criança, deixaria de pensar em questões maiores, que envolvem o destino da Nação.

Não foi essa a justificativa inicial dos mensaleiros? "fizemos o que se faz sistematicamente no Brasil há quinhentos anos" - disse Lula na célebre entrevista concedida à uma jornalista na França. Traduzindo: Se não tivessem feito o que fizeram, não conseguiriam aprovar as medidas que eram importantes ao "interesse nacional". Quem decidia que medidas eram essas? Lula, oras!

Agora, vejamos se a frase do Senador não demonstra que ele é o político mais identificado com o brasileiro médio nos dias de hoje: Basta que troquemos o "interesse nacional" por objetivos mais, digamos, cotidianos.

"A ética não é um objetivo em si mesma. O objetivo em si mesmo é chegar em casa. A ética é meio, não fim" (ao subornar um guarda após ser pego embriagado em uma blitz);


"A ética não é um objetivo em si mesma. O objetivo em si mesmo é a alegria da galera. A ética é meio, não fim" (ao acender um sinalizador feito para espaços abertos em um local fechado);

"A ética não é um objetivo em si mesma. O objetivo em si mesmo é manter meu lucro e pagar minhas contas. A ética é meio, não fim" (ao sonegar tributos, vender gato por lebre, descumprir contratos, etc); e,

"A ética não é um objetivo em si mesma. O objetivo em si mesmo é conseguir uma dentadura nova. A ética é meio, não fim" (ao vender o voto, ou votar em quem não se conhece só porque a vizinha falou).

Renan Calheiros não chegou ao Congresso por conta de uma quartelada qualquer. Teve empresários que financiaram sua campanha e gente que votou nele, portanto, parabéns brasileiros. Dia a dia estamos, finalmente, moldando uma classe política que realmente corresponde àquilo que nós somos e pensamos. Poucos países no mundo tem esse privilégio.