quarta-feira, 5 de julho de 2006

CRONICA DO DIA - A TRISTE HISTÓRIA DE DONA ZELITE

Havia em uma pequena cidade do interior, uma rica fazendeira chamada Zelite. Era uma senhora de idade já, mas muito justa. Em sua fazenda, residiam centenas de colonos que trabalhavam para ela.

Além de pagar o salário dos colonos, dona Zelite ainda comprava as obras de artesanato que sua famílias produziam, o que lhes proporcionava um ganho além dos salários.

Como era uma senhora de idade, deixava toda a administração da fazenda nas mãos de um de seus colonos, que era escolhido dentre os mais cultos – dona Zelite proporcionava a verba para a construção de escolas na fazenda – ou preparados dentre todos.

Quando um colono realmente se destacava, era comum que pedisse as contas, deixasse as terras de dona Zelite e fosse pelo mundo, adquirir ele próprio uma fazenda e dirigir seus colonos.

Tudo ia bem, até que surgiu dentre os trabalhadores da fazenda, um sujeito raivoso, indignado com tudo e com todos, que só fazia reclamar. Seu nome era Paulo de Tarso. Dono de uma grande retórica, passou a convencer os demais colonos de que Dona Zelite era uma pessoa má, que explorava a todos e que não zelava pelos mais pobres. A princípio achavam Paulo de Tarso um maluco, mas de tanto insistir na mesma história, começou a angariar adeptos às suas ideias.

Primeiro, começou a exigir que Dona Zelite diminuísse a jornada de trabalho dos colonos, ao mesmo tempo em que aumentava o salário deles. Acuada e muito embora não entendesse a reivindicação, já que – no seu raciocínio – seus colonos deveriam desejar trabalhar mais para ganhar mais, acabou concordando.

Paulo de Tarso então, passou a bradar que a dona Zelite era culpada pelos ladrões de galinha que vez ou outra invadiam suas terras porque não dava oportunidade para eles terem suas próprias fazendas. Exigia que ela não chamasse a policia quando encontrasse um ladrão de galinha, e sim que deixasse o mesmo se instalar e residir na fazenda com os demais colonos.

Dona Zelite, achou a idéia maluca, pois entendia que não era culpada se uma pessoa prefere roubar galinha a trabalhar duro pra comprar sua fazenda, mas como seus colonos já não eram mais os mesmos e seguiam fielmente tudo o que Paulo de Tarso bradava, acabou concordando, na esperança de que eles entendessem por si próprios como era falho esse raciocínio.

Paulo de Tarso, então, começou a reclamar que dona Zelite era preconceituosa porque não deixava um cara como ele ser administrador da fazenda e incitou os colonos a convencerem-na a aceitá-lo no cargo. Após muita discussão e a promessa de Paulo de Tarso de que iria cuidar com muito zelo das terras, dona Zelite aceitou a proposta. Paulo de Tarso foi conduzido nos braços dos colonos à sede administrativa da fazenda.

Seu primeiro ato foi criar diversos cargos de assessoria e ocupá-los com amigos pessoais, estipulando salários exorbitantes para cada um.

Inventou que os ladrões de galinha que haviam sido presos e que agora viviam a perambular pela fazenda sem fazer nada de útil, deveriam ser indenizados pelo tempo que ficaram presos. E assim foi feito.

O dinheiro que dona Zelite lhe fornecia todo mês para custear as despesas da fazenda não estava sendo suficiente, em vista do aumento da folha de pagamento da administração, das indenizações aos ladrões de galinha e a uma soma que – estranhamente – sempre sumia da contabilidade. Passou então, a cada mês, a abrir mão de parte de seu lucro para complementá-lo.

Por causa disso, foi obrigada a deixar de comprar o artesanato das famílias dos colonos, que passaram a ter que viver exclusivamente de seus salários.

Paulo de Tarso passou então, a contribuir com o sustento dos colonos da fazenda vizinha, incitando-os da mesma forma contra seus patrões. Determinou então, que toda a colheita – cujas sementes dona Zelite adquiria e fornecia aos colonos gratuitamente – era de propriedade dos trabalhadores e estes deveriam dar à Dona Zelite somente o suficiente para que ela se alimentasse. Bradou então, que quem não quisesse trabalhar não precisava, pois ele distribuiria a receita da fazenda pra todo mundo, mesmo àqueles que em nada haviam contribuído.

Combalida, cheia de dívidas, sem dinheiro e recebendo comida insuficiente para se alimentar de forma saudável, dona Zelite veio a falecer. No enterro, Paulo de Tarso convenceu até os colonos mais tristes com o ocorrido, de que assim seria melhor, já que a fazenda seria de todos.

O estranho é que, no dia seguinte ao enterro, Paulo de Tarso mudou-se para a casa sede e proibiu todos os colonos de chegarem a menos de cem metros da suntuosa mansão, sob pena de serem mortos a tiro. Colocou jagunços vigiando a propriedade diuturnamente. Sete dias após o enterro, baixou nota determinando – em face da falta de verba para compra de sementes, ante a morte de dona Zelite - que toda a produção da fazenda deveria ser enviada à casa sede, onde seria distribuída aos colonos segundo as necessidades básicas de alimentação de cada um.

Dona Zelite, na fazenda Brasil, já está em coma. Ninguém vai demitir Paulo de Tarso??

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