quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Discurso na ADESG/SP

Passados quatro meses de intenso estudo e análise do Brasil, acredito que a primeira frase que desponta é “não fazíamos idéia”.

Não fazíamos idéia da pujança e das possibilidades de nosso País, em todas as expressões do Poder Nacional. Possuíamos, como seres pensantes que somos, a noção de que muito está sendo deixado em segundo plano. Só não tínhamos idéia de quanto.

É uma pena que nossas crianças e jovens não tenham a oportunidade de, em tenra idade, conhecer as expressões do Poder Nacional, a busca do Bem Comum e a necessidade da consecução dos objetivos fundamentais da nação. Certamente teríamos uma juventude um pouco mais centrada nas coisas do Brasil e menos suscetível ao discurso vazio de caudilhos populistas.

Também saltou aos olhos com admiração, as coisas incríveis que a mente criativa do brasileiro consegue realizar, para contornar a falta de incentivo e apoio.

Apenas para exemplificar menciono – dentre as visitas que realizamos – a base tecnológica de ARAMAR, da Marinha do Brasil.

Neste exemplo, o Brasil viu as portas do mundo se fecharem à sua intenção de desenvolver a tecnologia de enriquecimento de Urânio, negando-lhe o acesso ao conhecimento e até mesmo à aquisição de peças para a construção dos equipamentos necessários. Muitas nações do mundo teriam, nesta situação, optado por desistir do intento, ou buscar socorro junto ao deletério mercado negro internacional.

Não fizemos isso. Preferimos optar pela improvável solução de desenvolvimento de nossa própria tecnologia, e o resultado foi à criação de um sistema de enriquecimento de Urânio que hoje é cobiçado por todas as nações do mundo, tamanha sua inovação e avanço tecnológico.

O Brasil, desde seu nascedouro, é assim. Uma nação que diante das adversidades, opta pela mais improvável das soluções e alcança seus objetivos. Isso nos diferencia do resto do mundo.

Na época do Brasil-colonia, nosso território era extenso demais e nossos povoados separavam-se uns dos outros por densas regiões de selva, habitadas por tribos de todos os tons, algumas, inclusive, adeptas do canibalismo.

Enquanto as colônias espanholas seguiram um rumo que resultou na cisão em diversos países hoje nossos vizinhos, e quase dizimaram sua população indígena criando conflitos e ressentimentos que até hoje persistem, o Brasil fez a improvável opção de manter integralmente seu território e de integrar a população indígena à sociedade. Hoje, somos o maior país e a maior economia da América-Latina. Em nosso vasto território, repousam riquezas cobiçadas por todo o mundo. Ao contrário de nossos vizinhos, não registramos conflitos sérios envolvendo nossos índios.

Enquanto o processo de independência de nossos vizinhos se fez de forma sangrenta, no Brasil, novamente de forma improvável, a transição transcorreu de maneira relativamente pacífica.

No início do século XX, quando cidadãos da Europa e da Ásia, fugindo da guerra, escolheram nosso país como novo lar, novamente despontou a vocação brasileira para realizar o improvável. Da alma alegre e pacífica do brasileiro, resultou que hoje, aqui, vivem em perfeita harmonia árabes e judeus, ingleses e irlandeses, japoneses, coreanos e chineses. Povos que se digladiam no resto do mundo.

Entre as décadas de 50 e 80, amontoaram-se em toda a América Latina milhares de mortos, tombados de um lado ou de outro, no combate ao Comunismo que procurava se instalar no continente. No Brasil – que por sua extensão territorial deveria ter somado sozinho mais do o dobro dessa trágica cifra – atingiu-se o número de quinhentas vítimas. Improvável novamente.

Infelizmente contudo, senhores e senhoras, há momentos em que não sabemos dosar nossa tendência às soluções improváveis. Nos últimos anos, por exemplo, o mundo – à céu de brigadeiro – cresce à média de 8% ao ano, enquanto o Brasil, contrariando todas as probabilidades, se mantém em 3%. É, portanto, momento de nos concedermos um minuto de reflexão.

Novamente a história nos chama à aplicação de nossa vocação às improbabilidades. A América-Latina se lança a passos largos ao populismo autoritário e antidemocrático. A ideologização de questões que exigem pragmatismo, a internacionalização de interesses nacionais e a sublimação da miséria e da ignorância são políticas que vem sendo aplicadas em todo o continente, desconsiderando a busca do Bem Comum e ameaçando a manutenção dos nossos objetivos fundamentais, em especial a democracia.

O descaso e o abandono grassam em todas as expressões do Poder Nacional.

Na expressão militar, nossas Forças Armadas atuam mal remuneradas e sem investimentos de vulto, enquanto nossos vizinhos se armam até os dentes, esperando um conflito não se sabe com quem. Não bastasse isso, nossos militares de hoje e de ontem são constantemente caluniados em relação a fatos de nossa história recente, dos quais a versão deles nunca é perquirida. Se ainda resistem fiéis ao compromisso firmado perante o Pendão Nacional, é por puro amor à pátria.

Na expressão política, impera o descrédito justamente aos Poderes que traduzem a vontade do povo e a defendem do arbítrio do Estado: O Legislativo e o Judiciário. No Poder Executivo, por outro lado, mantém-se o personagem do Oásis da ética e da moralidade pública. O messias enviado para nos salvar do deserto de indecências e interesses pessoais.

Na expressão psico-social, o que se verifica é um povo anestesiado, catatônico, sendo paulatinamente doutrinado a esquecer o valor do trabalho e contentar-se com migalhas oficiais. Nossa juventude – sem qualquer perspectiva de futuro – lança-se nas garras do crime organizado. Na árdua tarefa de manter a lei e a ordem, nossos bravos policiais, a fim de evitar reprimendas e garantir a manutenção de seus empregos e o sustento de suas famílias, freqüentemente têm de prescindir do enfrentamento necessário a toda a sorte de marginais sanguinários, que são definidos como pobres vítimas da sociedade por pseudo-intelectuais de plantão.

Na Expressão Econômica, nossa vocação natural como “celeiro do mundo” vem sendo negada pelo descaso e pela irresponsabilidade, levando os agricultores e pecuaristas à bancarrota. Em todo o setor produtivo, privatizam-se os investimentos, mas socializam-se os lucros de quem trabalha e produz, mediante o emprego de tributos escorchantes e cada dia mais impagáveis. O Brasil passou a dar a cada um segundo suas necessidades, negligenciando o desejo do cidadão de conseguir aquilo que sua capacidade pessoal permite.

Por fim, na Expressão Tecnológica, temos perdido nossas maiores revelações científicas, que vão desenvolver seus talentos em outros países, que concedem incentivos condignos com a importância deste setor.

Qualquer que seja o ângulo que se analise, a situação é de caótico abandono. O que fazer?

Senhores e senhoras: Durante os quatro meses de nosso curso, ouvimos palestrantes ilustres nos definirem como “a elite pensante deste país”. Pergunto-lhes: De que adianta uma elite pensante que se resume apenas em pensar?

Acaso teríamos a vastidão territorial que temos se os líderes de Guararapes se resumissem a pensar na injustiça do pacto entre Portugal e Holanda?

Seríamos uma nação independente, se Dom Pedro I se dedicasse tão somente a elucubrações acerca das determinações de seu pai?

Acaso teríamos democracia se o General Olympio Mourão se ativesse a imaginar quais seriam os próximos passos de Jango?

O momento atual é de reflexão, mas também de ação. Não compete mais à parcela da sociedade que detém discernimento para antever o sombrio caminho trilhado pela nação brasileira, manter-se silente.

É necessário que os brasileiros que repousam anestesiados despertem pelo som de nossa voz.

É preciso que mais uma vez, o Brasil opte pelo caminho do improvável, rompendo com o modelo populista e autoritário que é implementado no resto da América Latina.

Se faltam lideranças que traduzam esse sentimento de indignação, então que parta da ADESG/SP o grito de BASTA!

Basta de acordos escusos, mensalões, mensalinhos, dinheiro em mala, sacola, cueca. O Brasil clama por ética e moral no trato da coisa pública e se os representantes do povo assim não procedem, então representam outra nação e outro povo, aético e imoral, que não o brasileiro.

Basta de messianismo, assistencialismo, esmolas oficiais e bovinização de eleitorado. O Brasil foi construído com 506 anos de trabalho árduo e somente com trabalho árduo de todos os brasileiros ocupará o lugar de destaque que lhe é destinado.

Basta de “país do futuro”, que só é afiançado aos “apaniguados do Rei”. O amanhã só será garantido a todos se, vislumbrando os equívocos de ontem, trabalharmos o hoje, com seriedade e foco.

Basta de alteração e ocultação da verdade de nossa história. Só se pode amar o que se respeita e só se respeita o que se conhece. Os verdadeiros mártires da história do Brasil clamam por reconhecimento e respeito.

Basta de condescendência com criminosos e facínoras de todos os matizes. Os cidadãos honestos têm o direito sagrado, democrático e inalienável ao desfrute de sua propriedade e de ir e vir livremente. Os marginais e contraventores devem suportar o rigor da Lei e do cárcere e não o contrário.

Basta senhores e senhoras. Só precisamos bradar Basta.

Encerrando minhas palavras, sugiro, como reflexão, que meditemos acerca dos seguintes versos, escritos por Américo Moura para a introdução do Hino Nacional Brasileiro:

Espera o Brasil

Que todos cumprai

Com vosso dever.

Eia avante, brasileiros

Sempre avante!

Gravai a buril

Nos pátios anais

Do vosso poder.

Eia avante brasileiros,

Sempre avante!

Servi o Brasil

Sem esmorecer

Com ânimo audaz

Cumpri o dever

Na guerra e na paz,

À sombra da lei

A brisa gentil

O lábaro erguei

Do belo Brasil.

Discurso proferido por mim na formatura da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG-SP), em 24 de novembro, na presença de Adauto Rocheto, Delegado da ADESG/SP, Ricardo Ferreira Genari, coordenador do 49º Ciclo de Estudos de Política e Estratégia e autoridades civis e militares.

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